6 de outubro de 2012

Os Enamoramentos - Javier Marías (Resenha)

Leitura da Semana

 

 Os Enamoramentos
Javier Marías


As únicas que não nos falham nem decepcionam são as que nos arrebatam, as únicas que não largamos são as que desaparecem contra a nossa vontade, abruptamente, e assim carecem de tempo para nos dar desgostos ou nos decepcionar. (Javier – pag 113)

Leitura de reponsa.... Javier Marías é um autor Madrileno  com várias obras traduzidas em diversas línguas.
Recebi da editora Companhia das Letras um belo exemplar de leitor, uma espécie de edição limitada desse livro juntamente com “O Coronel Chabert” de Honoré de Balzac (outra obra de responsa...). Uma delícia! Afinal de contas em “Os Enamoramentos” viajamos paralelamente nessa obra de Balzac e em outra obra clássica bem conhecida e que já falei por aqui também: “Os Três Mosqueteiros” de Dumas.





- Mas o Que Esperar desta Obra?

“Os Enamoramentos” nos leva por uma viagem na alma humana. O que faríamos por amor? Até onde iríamos e o que isto nos custaria? É um romance denso, detalhista e primoroso.


São poucos os personagens desta história, mas são tão bem destrinchados pelo autor que me transportei para suas peles. E isso leitores, é assombroso! 


María Dolz é nossa guia nesta história de amor, crime e talvez  redenção.  Ela é como se fosse uma voyeur... deliciada com a rotina matinal do casal Desvern e suas peculariedades. 


“Me reconforta respirar o mesmo ar, ou fazer parte da paisagem matinal deles – uma parte despercebida.” (María – pag 11)

Desta vez nosso cenário é Madrid e nosso ponto de partida é uma cafeteria à qual todas as manhãs María observa de sua mesa um belo casal em seus momentos de amor incondicional. Um casal beirando à perfeição: Miguel Desvern e sua bela esposa Luisa Alday. E observando diariamente a rotina desse casal, os afetos, os gestos, os filhos, é que María passa seu cotidiano. Até o dia em que o casal deixa de comparecer ao café, coisa que era habitual. Mais tarde María descobre horrorizada que Miguel fora brutal e estupidamente assassinado e que Luisa, agora sua viúva, arrasta seus dias como se fosse uma sombra. 

A solitária María então sente seu mundo acabar como se não houvesse mais nenhum objetivo, nem vida.


“Tinha sido por causa do meu humor pior e do meu desânimo maior, de que meu café da manhã já não me dava tanto prazer na ausência do casal perfeito.”(Maria – pag 33)

É assim que nossos personagens, abalados por essa tragédia aparentemente estúpida e ocasional, começam a nos mostrar suas fraquezas.
É uma história de paixão, superação, medo, ciúmes  e mais ainda sobre morte, traição e desejos. 



Nossas convicções são passageiras e frágeis, até as que consideramos mais fortes. Nossos sentimentos também. Não deveríamos confiar neles. (pag 100)

Maria deixa então de ser telespectadora e passa a ser nossa guia e comentarista. Ou talvez ela seja a chave de algo maior. Ela nos inunda com suas percepções aguçadas dos personagens ao seu redor.



Talvez fosse um desses amigos íntimos aos quais num momento de fraqueza ou de premonição obscura se pede ou se encomenda algo: “Se um dia me acontecer uma desgraça e eu não estiver mais aqui”, Deverne poderia ter lhe dito uma vez, “conto com você para cuidar de Luisa e das crianças.”(devaneios de María – pag 93)

Mais adiante surgem alguns personagens taciturnos e ambíguos que amamos e odiamos na mesma intensidade.  O sedutor Javier  Diaz-Varela é um deles: amigo fiel de Miguel, apaixonado por Luisa e amante de Maria. Seu caráter oscila entre o bom moço e o canastrão egoísta.



Quando uma pessoa deseja alguma coisa por muito tempo, é muito difícil deixar de desejá-la (...). A espera nutre e potencializa esse desejo, a espera é cumulativa para o esperado (...) (pag 155)


María se enamora de Javier que é enamorado de Luisa... que era enamorada de Miguel. Quem estava sobrando nesta história? Fácil dizer: Miguel, o morto e María, a amante de conveniência. E como as emoções humanas podem ser imprevisíveis... O resto já dá pra imaginar, não é?


Comecei, não a desconfiar, mas a me indagar, quando uma noite, depois de voltar da casa de Diaz-Varela bem-humorada e animada, já deitada diante das minhas árvores agitadas e escuras, me surpreendi desejando, ou terá sido fantasiando com a possibilidade de que Luisa morresse e me deixasse o campo livre com relação à ele, ela que não fazia nada para ocupá-lo. (María – pag 154)


Talvez Miguel tenha morrido para dar espaço à paixão de Javier por Luisa, ou talvez tenha sido assassinado para que Luisa pudesse enxergar Javier. Mas isso, leitores, deixo vocês descobrirem...  ;-)



- O que aconteceu é o de menos. É um romance, e o que acontece neles não tem importância, a gente esquece, uma vez terminados. (Javier – pag 139)
__________


- O Livro:


 Os Enamoramentos

 Autor: Javier Marías

Editora: Companhia das Letras
Assunto: Literatura Estrangeira / Romance
ISBN: 9788535921533
1a Edição / 2012
344 Páginas


- Sinopse:

María Dolz, uma solitária editora de livros, admira à distância, todas as manhãs, aquele que lhe parece ser o “casal perfeito”: o empresário Miguel Desvern e sua bela esposa Luisa. Esse ritual cotidiano lhe permite acreditar na existência do amor e enfrentar seu dia de trabalho.
Mas um dia Desvern é morto por um flanelinha mentalmente perturbado e María se aproxima da viúva para conhecer melhor a história. Passa então de espectadora a personagem, vendo-se cada vez mais envolvida numa trama em que nada é o que parecia ser, e em que cada afeto pode se converter em seu contrário: o amor em ódio, a amizade em traição, a compaixão em egoísmo.

A história, narrada em primeira pessoa por María, sofre as oscilações de seus estados de espírito, de seus “enamoramentos”, evidenciando que todo relato é tingido pela subjetividade de quem conta.
Ao mesmo tempo, a presença incômoda dos mortos na vida dos que ficam é o tema que perpassa este romance, à maneira de um motivo musical com suas variações. Para desdobrar e reverberar esse mote, Javier Marías entrelaça a seu enredo referências a obras clássicas da literatura, como Os três mosqueteiros, de Dumas, Macbeth, de Shakespeare, e, sobretudo, o romance O coronel Chabert, de Honoré de Balzac.

Sustentando com maestria uma voz narrativa feminina, o autor eleva aqui a um novo patamar sua habilidade em nos envolver no mundo interior de seus personagens. Com Os enamoramentos, obra de plena maturidade literária, Javier Marías se reafirma como um dos maiores ficcionistas de nossa época.
___________________

- Meu Enamoramento...


Tenho que confessar que não é exatamente meu tipo de literatura, mas a história conseguiu me prender e terminei o livro com o coração na mão. Se eu estivesse na pele de María,  nossa narradora, guia e telespectadora, sinceramente, não sei o eu que faria!


O livro termina e não descobrimos o que foi ou não verdade quanto à morte de Miguel. Mas descobrimos que o caráter e coração dos homens são tempestuosos, ardilosos e perigosos!  Isso me lembra o poema “Fire and Ice”de Robert Frost.





Some say the world will end in fire,
Some say in ice.
From what I've tasted of desire
I hold with those who favor fire.
But if it had to perish twice,
I think I know enough of hate
To say that for destruction ice
Is also great
And would suffice.

Leitura densa e, por vezes, preocupante. Até onde você iria por uma paixão?

_____________________


- O Autor:

Javier Marias
Nasceu em Madri em 1951. Formado em letras e especializado em filologia, trabalhou como roteirista e tradutor, além de ter lecionado na Universidade de Oxford e na Complutense de Madrid.
Estreou na ficção com Os domínios do lobo, em 1971. Desde então, já escreveu mais de trinta livros, entre romances, ensaios e coletâneas de contos, traduzidos em pelo menos quarenta idiomas, tendo vendido mais de 6 milhões de exemplares pelo mundo.
Site do autor: www.javiermarias.es 

Um comentário:

  1. Fiquei quase encantada com o livro. O "quase" é justamente porque ainda não o li hehe. Mas gostei muito da temática, e pelo que li na resenha sinto que é o tipo de livro que me agradaria.
    A capa é linda. Enfim, todo o livro tem uma carinha de especial. Quero ver "com as mãos" na próxima ida à livraria hehehe.

    bj
    escrevendoloucamente.blogspot.com

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