12 de abril de 2014

A Invenção das Asas - Sue Monk Kidd (resenha)



A Invenção das Asas
Sue Monk Kidd


Meu corpo pode ser escravo, mas não minha mente. Pra você, é o contrário.
(Hetty - pág. 178)


A Invenção das Asas, de Sue Monk Kidd, é um romance sobre duas mulheres americanas: Sarah Grimké, uma garota da aristocracia de Charleston, e Hetty "Encrenca", uma jovem escrava negra. Durante a narrativa viajamos em suas histórias no período de 1803 à 1838, passando por momentos de descobrimento pessoal, de dor, luta pela vida e pela liberdade e de questionamento das regras da sociedade. São 35 anos de história divididos no livro em seis períodos.

Sue Monk Kidd é também autora de A Vida Secreta das Abelhas e A Sereia e o Monge - duas obras de destaque.
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Hora de desafiar a sociedade, criar asas e voar! 


Sarah Grimké é filha de uma família escravocrata muito rica. Inteligente e bem instruída, ela sonha em um dia se tornar uma advogada - assim como seu pai e irmãos. Mas para uma mulher em pleno século XIX, isso é impossível. 
Em seu aniversário de 11 anos, ela ganha de presente uma escrava que será sua dama de companhia pelos próximos anos: Hetty, ou simplesmente conhecida como "Encrenca". A mãe de Hetty é uma hábil costureira e uma escrava que sofre nas mãos da Sra. Grimké - mãe de Sarah.
Desde pequena Sarah já tinha ideais abolicionistas. Ela até tenta alforriar Hetty, mas isso só piora sua situação perante os Grimké. Ela pretende fazer algo grande no mundo, mas infelizmente está cercada pelos limites impostos à mulher.
Cada vez mais, durante essas aulas, desejos tomavam conta de mim, vontades exteriores e torrenciais que dominavam meu coração. Eu queria conhecer coisas, me tornar alguém. Oh, ser um filho homem! Eu adorava meu pai, pois ele me tratava quase como se eu fosse um filho, permitindo que eu entrasse de fininho em sua biblioteca.(Sarah - pág. 23)
Com os sonhos podados e as desilusões amorosas que se sucedem no decorrer dos anos, Sarah se torna uma sombra da mulher que um dia já foi. Mas isso não a impede de desafiar a sociedade começando por ensinar Hetty a ler e a escrever e depois abandonar sua religião presbiteriana e abraçar a causa quaker, mudando-se, ainda solteira e sozinha, para o norte do país. E ela sobrevive com dignidade à hostilidade e ao ostracismo que lhe é imposto. 
Mais adiante, Sarah reencontra a si mesma, abraçando uma causa que há muito estava adormecida: a libertação dos escravos e a igualdade de direitos, tanto dos negros como das mulheres. Não antes sem muito sofrimento, amores destruídos, percalços, preconceitos e hipocrisias. Como já disse, a mulher do século XIX não podia sequer ser instruída, quanto mais "pensar" e "falar" por si própria...

Paralelamente vemos o desenrolar da história de Encrenca. Durante a ausência de Sarah, ela volta para a posse da Sra. Grimké e se torna uma costureira de mão cheia - e uma empregada valiosa para a família. E Encrenca não é só um apelido - ela é realmente a personificação da "encrenca". Matuta, ela foge para a cidade quando pode, participa da insurreição pela libertação, manipula a Sra. Grimké. Vemos o sofrimento da escravidão através de seus olhos e acompanhamos suas correspondências com Sarah que, apesar de frias, demonstram alguma preocupação e afeição.
Era difícil saber em que pé as coisas estavam. As pessoas dizem que o amor fica manchado por uma diferença tão grande quanto a nossa. Eu não sabia ao certo se os sentimentos da Srta. Sarah vinham do amor ou da culpa. Eu não sabia se os meus vinham do amor ou da necessidade de segurança. Ela me amava e tinha pena de mim. E eu a amava e usava a Srta. Sarah. Nunca foi simples. Naquele dia, nossos corações estavam puros como jamais estariam.(Hetty Encrenca - pág. 53)
Conhecemos também Angelina Grimké (Nina), irmã mais nova e afilhada de Sarah. Nos primeiros anos de vida de Nina, Sarah implora à mãe para ser madrinha dela. Com seus sonhos destruídos e podados pela família Grimké e pela sociedade da época, Nina seria seu projeto de vida, sua razão de viver. Então Nina cresce tratando Sarah como se fosse sua real mãe e tendo em mente ideias idênticos aos de Sarah, só que muito mais fortes. E ela se torna uma mulher obstinada, fonte de força e inspiração para Sarah. Sarah tem o poder de pensar e ponderar, mas se curva; enquanto Nina tem o poder de agir e é destemida.
Felizmente, muitos anos depois, Sarah e Angelina se tornam as pioneiras nos movimentos de abolição dos escravos e dos direitos das mulheres.
Ela tinha sido mais corajosa do que eu sempre fora. Em me preocupava demais com a opinião dos outros, ela não se preocupava nem um pouco. Eu era cautelosa, ela era intrépida. Eu pensava, ela agia. Eu acendia o fogo, ela o espalhava. E bem ali e para sempre, eu vi como as Moiras tinham sido espertas. Nina era uma asa, eu era a outra.(Sarah - pág.269)

Com caminhos que se cruzam e são moldados no tempo, Sarah sabe que está designada a fazer algo maior neste mundo. E realmente o fará. Ela escolhe a si mesma, sem frustração, e o resultado é surpreendente.

Sue Monk Kidd apresenta um cenário de esperança, ousadia, de busca pela liberdade e do desejo de ter voz ativa. Inspirada na figura histórica (e real) de Sarah Grimké, a autora recria registros de suas ações em várias passagens do livro - com exceção das cartas e dos diálogos. Sarah foi uma mulher forte e percursora de outras mulheres que se tornaram célebres pensadoras e oradoras. Sua irmã Angelina (Nina) também é real e elas foram parceiras de vida e de ideais. Quanto à Hetty, há relatos de que existiu um menina negra que se tornou muito amiga de Sarah. Entretanto, ela morreu ainda muito jovem e, portanto, o que se segue na história de Hetty Encrenca no livro é pura ficção.
Angelina e Sarah Grimké
Os personagens têm uma relação complexa, com desafios e amores imperfeitos. São 35 anos de lutas, traições, amores não correspondidos e esperanças esmagadas. Mas como falamos de mulheres fortes e além do seu tempo, o que não falta é coragem. É impossível o leitor ficar indiferente diante dessa luta pela liberdade e emancipação. E porque não se dizer: por assumir as rédeas de seu próprio destino.
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A Invenção das Asas
Sue Monk Kidd

Paralela
Literatura Estrangeira/ Romance
ISBN: 8565530485
1a Edição / 2014
328 Páginas

Inspirado pela figura histórica de Sarah Grimke, o romance começa no 11º aniversário da menina, quando é presenteada com uma escrava - Hetty 'Encrenca' Grimke, que tem apenas dez anos. Acompanhamos a jornada das duas ao longo dos 35 anos seguintes. Ambas desejam uma vida própria e juntas questionam as regras da sociedade em que vivem.

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Capas Estrangeiras


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6 comentários:

  1. Nossa, seu blog esta maravilhoso! ja estou seguindo.
    Sobre este livro... estou querendo muito ler *o*
    Depois da uma passadinha no meu blog. se gostar segue *o*
    bjO
    Naty Rangel
    livrosdanatyrangel.blogspot.com.br

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  2. Oi Vick! Eu sou a Gabi, nos conhecemos no evento de Romances de época lembra? eu sou a menina que se parece com a garota de "a culpa é das estrelas" rsrsrsrs

    então, só to passando pra postar o link pro meu blog... e pra dizer q eu ADOREI a interface do seu blog! mto linda! *---*


    http://walkinglibrary.blogspot.com.br/

    de qualquer maneira, foi um prazer conhecê-la!

    XOXO
    Lady Book

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  3. Oi Gaby!


    Também adorei te conhecer no evento :-)
    E ai, você vai no evento e SP no Market Place?

    Se quiser, me adicione no facebook pra gente não perder contato ;-)
    https://www.facebook.com/pplivros

    Já estou seguindo seu blog. Muito fofo!!!!


    Bjsssss,
    Vick

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  4. Adoro seu blo e amos suas resenha, mas, senti falta do viajando na maionese, é tão legal!

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  5. Pode deixar! O Viajando na Maionese logo estará de volta ;-)

    Bjsss

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