11 de junho de 2014

Dias Perfeitos - Raphael Montes (resenha)



Dias Perfeitos
Raphael Montes


Raphael Montes é um jovem talento da literatura nacional. Sua obra mais recente é Dias Perfeitos, lançado pela Companhia das Letras, um romance que mistura ficção e thriller de maneira perturbadora.
Téo, um dos principais protagonistas, é um jovem estudante de medicina que está acostumado a sua solidão e a dissecar cadáveres. Mas quando a rebelde Clarice cruza seu caminho, Téo fica obcecado pela jovem e decide fazer de tudo para que ela não saia de sua vida. Nem que ele tenha que entrar na vida dela à força. Custe o custar. A partir daí o leitor mergulha no mundo psicológico e negro dos personagens... 

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Bem-me-quer, Mal-me-quer


Téo estuda medicina e adora as aulas de anatomia, onde pode se isolar e se dedicar à dissecação de cadáveres, seu momento mais "relaxante". Ele é um jovem recluso, sem amigos e leva a vida entre as aulas na faculdade e os cuidados que tem com sua mãe Patrícia, uma senhora paraplégica. 
Forçado a acompanhar sua mãe à uma festa, lá Téo conhece Clarice, uma jovem de espírito livre, rebelde e cheia de atitude. E bastou um selinho, um maldito beijinho de "foi bom te conhecer, mas até nunca mais", para que ele ficasse completamente obcecado por Clarice.   

Ela o havia beijado naquele churrasco, Por que parar? Do beijo, furtado e furtivo, ele havia se tornado refém. Não era o invasor, mas o invadido; não queria só desvendar, mas ser desvendado. Ele amava Clarice, admitiu. Precisava ser amado. (Téo - pág. 30)

Agora, Téo não está disposto a deixar Clarice sair de sua vida. Possessivo, minucioso e estrategista, ele inicia uma aproximação forçada - e forjada. Primeiramente, ele passa a seguir Clarice, acompanhando sua rotina na faculdade, descobrindo seu endereço e outros detalhes perturbadores de sua personalidade. Mais tarde ele "dá as caras" na casa de Clarice e ela logo percebe que há algo de errado. Como ele sabia seu endereço?

E o mais impressionante é que Téo chega agindo como se realmente fosse seu namorado e dono. Como Clarice é decidida e não mede palavras, ela resolve podar as asinhas de Téo e o bota para correr. Ofendido e sentindo-se desprezado, ele toma uma atitude extrema e cruel que o conduzirá à uma direção sem volta: sequestrá-la. No período de cativeiro, ele faria com que Clarice o amasse, de um jeito ou de outro.
- Se fosse para matar alguém, eu teria matado você. (Clarice - pág. 273)

Trancafiada numa mala, algemada em camas e sedada na maior parte do tempo, Clarice torna-se vítima e marionete de um homem obsessivo, perturbado e disposto a loucuras desmedidas. 

Uma linha tênue separa o amor e o ódio...
Uma decisão separa a mente sã da mente de um psicopata... 
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"Dias perfeitos é uma história de amor, sequestro e obsessão"


O estopim de Dias Perfeitos é o sequestro. Já que Clarice se recusa a amá-lo, Téo decide forçar sua presença e impor seu amor pela dor. O interessante é que todo o tempo Téo sente que está agindo de forma correta e que ela, no fundo, o ama de verdade. Téo faz de tudo para encaixar Clarice no seu arquétipo de amor: a priva de fumar (porque ele odeia cigarro), ignora que ela goste de "meninas" (sim, "meninas" e não "meninos") e impõe uma relação íntima à força achando que ela está feliz - entre outras coisas.
Como Téo está acostumado a dissecar cadáveres, ele pretende fazer o mesmo com Clarice: dissecar sua rebeldia, seus vícios e moldá-la à sua vontade. E o mais irônico disso tudo é que ele a apelida de "minha ratinha", como se Clarice realmente fosse um rato de laboratório!

É perturbador! Ele age com muita calma, frieza e planeja cada passo. Ele vive na fantasia que sua própria mente doentia criou: ele acredita que os momentos ao lado dela são bons, românticos e perfeitos como numa "lua-de-mel". Mesmo quando ela está sedada, quando ela o insulta, quando ele a esbofeteia. Ele é tão psicótico que compra até um anel de noivado! 
Quando Clarice não está dopada (mas mesmo assim algemada à uma cama), o casal estabelece uma rotina irreal, com diálogos ágeis e afiados - dá até medo! O autor aborda claramente o lado psicológico dos personagens, um lado negro e feio que só os leitores com bom estômago serão capazes de digerir.

Definitivamente é um thriller repleto de surpresas e com um final tenso e inesperado! Senti medo, enjoo, tensão... 

E, graças à Teó, nunca mais vou olhar para uma mala de viagem com os mesmos olhos...  #Afff!
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Obsessão, Perseguição, Amor Doentio?

De aluno aplicado e filho exemplar, Téo se torna um assassino frio e calculista. A primeira coisa que me veio à mente foi o Dexter... Vocês sabem quem é ele, certo? Aquele que também adora "dissecar cadáveres"... 
- Às vezes, eu ajo como um louco, mas... Mas é que você mexeu muito comigo e... Não posso te perder. Você é a razão da minha vida." (Téo - pág. 173)

Também me lembrei de outro casal louco-alucinado-sanguefrio: o detetive Archie e a "psichokiller" Gretchen Lowell. Lembram deles? (relembre Coração Ferido, a primeira parte dessa história - clique aqui)  #meda

Então, se você gosta dessa turminha ai, corre encarar Dias Perfeitos ;-)
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O Livro


Dias Perfeitos
Raphael Montes

Companhia das Letras
Literatura Brasileira / Romance / Thriller
ISBN 9788535924015
1a Edição / 2014
278 Páginas

O protagonista do livro é Téo, um jovem e solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e dissecar cadáveres nas aulas de anatomia. Num churrasco a que vai com a mãe contrariado, Téo conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema.
Clarice está escrevendo um road movie de nome “Dias perfeitos”. O texto ainda está cru, mas ela já sabe a história que quer contar: as desventuras de três amigas que viajam de carro pelo país em busca de experiências amorosas.
Téo fica viciado em Clarice: quer desvendar aquela menina diferente de todas que conheceu. Começa, então, a se aproximar de forma insistente. Diante das seguidas negativas, opta por uma atitude extrema: desfere um golpe na cabeça dela e, ato contínuo, sequestra a garota.
Elabora então um plano para conquistá-la: coloca-a sedada no banco carona de seu carro e inicia uma viagem pelas estradas do Rio de Janeiro - a mesma viagem feita pelas personagens do roteiro de Clarice.
Passando por cenários oníricos, entre os quais um chalé em Teresópolis administrado por anões e uma praia deserta e paradisíaca em Ilha Grande, o casal estabelece uma rotina insólita: Téo a obriga a escrever a seu lado e está pronto para sedá-la ou prendê-la à menor tentativa de resistência. Clarice oscila entre momentos de desespero e resignação, nos quais corresponde aos delírios conjugais de seu sequestrador.
O efeito é tão mais perturbador quanto maior a naturalidade de Téo. Ele fala com calma, planeja os atos com frieza e justifica suas decisões com lógica impecável. A capacidade do autor de explorar uma psique doentia é impressionante - e o mergulho psicológico não impede que o livro siga um ritmo eletrizante, digno dos melhores thrillers da atualidade.

Dias Perfeitos tem clima sombrio e claustrofóbico, personagens em tensão permanente e diálogos afiados. Angustiante e repleto de reviravoltas, o livro é uma história de amor obsessivo e paranoico que consolida Raphael Montes como uma das mais gratas surpresas da literatura brasileira.


O Autor

Aos 20 anos, o carioca Raphael Montes impressionou crítica e público com Suicidas, um caudaloso romance policial que lhe garantiu vaga entre os dez finalistas do prêmio São Paulo de Literatura na categoria autor estreante.
Após ler seu primeiro livro, Scott Turow, um dos autores policiais de maior prestígio no mundo, disse que Raphael está “entre os mais brilhantes ficcionistas jovens” da atualidade. “Ele certamente redefinirá a literatura policial brasileira e vai surgir como uma figura da cena literária mundial.” 
Agora, aos 23 anos, ele lança seu segundo livro, Dias Perfeitos, romance que confirma seu talento e certamente vai expandir sua já considerável cota de fãs.

Raphael Montes nasceu em 1990, no Rio de Janeiro. Advogado e escritor, publicou contos em diversas antologias de mistério, inclusive na Playboy e na prestigiada revista americana Ellery Queen Mystery Magazine. Suicidas (Saraiva), romance de estreia do autor, foi finalista do prêmio Benvirá de Literatura 2010, do prêmio Machado de Assis 2012 da Biblioteca Nacional e do prêmio São Paulo de Literatura 2013.

4 comentários:

  1. Ótimo texto de resenha. Meus parabéns! Amei a maneira que vc usou para se expressar, me fez se interessar pelo livro....mas vc já leu o livro reverso... se trata de um livro arrebatador...ele coloca em cheque os maiores dogmas religiosos de todos os tempos.....e ainda inverte de forma brutal as teorias cientificas usando dilemas fantásticos; Além de revelar verdades sobre Jesus jamais mencionados na história.....acesse o link da livraria cultura ...a capa do livro é linda ela traz o universo como tema.
    http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=78725243

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  2. Estou ao mesmo tempo fascinada e com medo desse livro.
    Não sei se compro ou não, mas você realmente me deixou extremamente curiosa a respeito do desfecho da história.

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  3. Oi Vick!
    Eu ando paquerando muito esse livro!!! Precisava de uma resenha encorajadora! Que thriller! Fiquei com muita vontade de ler, para saber o final, e conhecer mais o jeito poeta caótico do autor! Adorei as quotes!

    Bjokas
    Lica
    Bookeando!

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  4. Não conhecia o autor e nem sua obra e passeando por aqui encontrei essa resenha maravilhosa e estou muito curiosa sobre essa história, gosto de livros policiais, suspense e por ai vai .bem legal!

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